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domingo, 2 de janeiro de 2011

A prata da casa

Quando eu li esta crônica do Juremir Machado da Silva sobre o Nei Lisboa, no Correio do Povo, pulei pra trás de satisfação. Parecia um texto feito para este blog. Claro, não escrito por mim, obviamente, porque ele escreve muito melhor do que eu. Mas por achar que o texto tem tudo a ver com este espaço, e que agora em diante nem me atrevo a falar de Nei, eu transcrevo abaixo o conteúdo integral da coluna:


"Vapor do Nei

Nei Lisboa é muito bom. Sempre foi. Continua. O novo CD do nosso melhor músico gaúcho em atuação reúne seus clássicos (sim, Nei tem clássicos, o que é para poucos) e uma composição inédita, "Vapor da Estação", que dá título ao conjunto. Impressionam na arte de Nei a sutileza, a sofisticação, a elegância, os jogos de palavras inteligentes e a percepção justa, complexa e divertida do cotidiano. Nei é, ao mesmo tempo, compositor, observador da sociedade, antropólogo, autor de romance policial, poeta, boêmio, pai e cronista. Alguns dos seus achados honrariam as páginas dos melhores poetas do mundo, coisas como este "procurando Deus entre as folhagens do jardim" ou "eu quero é morrer bem velhinho, assim sozinho, ali bebendo um vinho, olhando a bunda de alguém". Bacana!

Custa crer que com "Vapor da Estação" Nei Lisboa esteja realizando a sua primeira turnê nacional. Se não fez antes, não foi certamente por falta de talento ou de convites. Como quase todo grande artista, Nei tem suas esquisitices. Talvez nunca tenha querido realmente passar pela vulgaridade de estabelecer-se no Rio de Janeiro ou em São Paulo para vender sua arte. Andou por lá. Não ficou. Voltou rapidamente para casa. Afinal, como os ouvidos de qualquer pessoa de bom gosto logo percebem, a arte de Nei é universal, mas com aroma local, exatamente como acontece com toda grande arte. Além de compor bem, Nei Lisboa tem uma voz linda, suave, quente, macia. Não faz esforço para cantar. Situa-se num lugar especial na galeria das belas vozes brasileiras. Não tem o vozeirão marcante de antigamente nem a falta de voz da atualidade.

"Um silêncio teu me pede pra voltar", diz Nei numa das suas canções mais sedutoras. Uma das suas habilidades é falar de amor sem pieguice. Para quem gosta de teorias ou de conceitos, Nei talvez possa ser rotulado de minimalista. Não há o menor excesso na sua música. Tampouco não é excessivo dizer que ele está entre os melhores compositores brasileiros atuais junto com Chico Buarque. Santo de casa, obviamente, dificilmente faz milagre. Nei faz. Construiu o seu espaço. No fundo, é um artista recatado. Nada pede, de nada reclama. Há um pouco de maldição nessa trajetória altiva e quase melancólica. Muitos se perguntam: por que Nei não é uma celebridade nacional? Porque não quis, não fez concessões, ficou por aqui, é sofisticado demais. Que sofisticação é essa? Uma sofisticação paradoxal, feita de simplicidade e leveza.

O Rio Grande do Sul tem sido feliz na geração de músicos admirados ou admiráveis. É o caso de Vitor Ramil, da banda Cachorro Grande, de Bebeto Alves e de tantos outros. A figura de Elis Regina paira soberana acima de todos. Porto Alegre pode dormir feliz. Tem Nei Lisboa como seu principal intérprete, aquele que sabe ler nas suas entrelinhas e expressar seus gemidos, suspiros e gritos de júbilo. Poucos cantaram como Nei os "Telhados de Paris". Poucos revelaram como ele a tragicômica falta de sentido desta nossa agridoce "vidinha burra". Num gesto radical de fã típico, dá para dizer: Nei é Nei."


Publicado no Correio de Povo em 29 de Novembro de 2010, na coluna de Juremir Machado da Silva.

Link para a fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=60&Caderno=0&Noticia=228204

A ilustração é a original da coluna (já que eu quis copiar, copiei tudo). Arte de Pedro Lobo.

Link para o website oficial do artista: http://www.neilisboa.com.br/

Feliz 2011 e sempre!

Até a próxima!

Luis Felipe

4 comentários:

Anônimo disse...

Bem, vou escrever aqui o que te disse antes: esse texto tá tão raso quanto um pires cheio até a metade. Tuas análises são bem melhores que essa colcha de retalhos que o Juremir escreveu. Na realidade, ele nem tentou analisar nada, se perdeu completamente, o coitado! Mas como disse, é bom que tu tenhas um contra-parâmetro pras tuas resenhas/críticas/verborragias psicodélicas. Beijo!

Luis Felipe R. Freitas disse...

O Juremir, até sem saber, cria polêmica! Tenho muito que aprender com ele, hehe.

Pedro disse...

obrigado por colocar o crédito da ilustra!
abraçao!

Luis Felipe R. Freitas disse...

Pedro,
Como disse um leitor do blog, quando eu atribuí, equivocadamente, a autoria de uma composição ao compositor errado, "mérito é mérito".
E fico honrado com a sua visita ao blog.
Abraço!