sobre letras de música, revistinhas de cifras, tocar violão, ilustrações e outras bossas
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Um certo Tom
sábado, 15 de janeiro de 2011
O que é o samba? Parte II.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Novos Rumos: refazendo a rota
P.S.² A composição é de Orlando Porto e de Rochinha, como se pode ver nos comentários. Agradeço às familiares do compositor pela sua contribuição. Para mim é uma honra receber seus comentários. Apenas mantive a postagem porque acredito que discussão na postagem é válida - e nos comentários mais ainda! - no sentido de garimparem-se, com a ajuda de leitores do blog, esses dados autorais históricos. Esta nota data do dia 22 de agosto de 2014.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Novos modelos de censura
Quem acessou o http://letras.terra.com.br/ atrás das letras de canções de Ana Carolina nos últimos meses deparou-se com a seguinte mensagem:
“As músicas de autoria da compositora Ana Carolina foram removidas em razão de solicitação dos titulares da obra. O Letras.mus.br está trabalhando para obter o licenciamento desse conteúdo.”
Paremos e pensemos sobre a situação que se apresenta, e que é absurda sob qualquer ângulo que se olhe. Como classificar essa “solicitação dos titulares da obra” de retirar letras de música de sites de letras? Chilique? Birra? Mamãe, publicaram minha letra e não me deixam brincar com a bola deles? Ou mesmo falta do que fazer, durante uma crise de falta de criatividade?
Pois eu digo: as letras foram retiradas do site muito provavelmente baseadas numa lei de direitos autorais, segundo a qual deve-se pagar aos autores pela publicação de sua obra. Mas vamos e venhamos, é uma atitude antipática somente. O site pode ter sido processado e pode ter até um pedido de pagamento para ressarcimento dos “danos”. Ora, ora, ora.... quais seriam os danos?
Para todos os efeitos de direito efetivamente se reconhece a autoria de qualquer coisa, e letras e músicas têm seu registro em vários lugares possíveis (desde a Biblioteca Nacional até o cartório do outro lado da rua). Mas sei que o objetivo de um site que publica letras de todos os músicos, e que aliás, as publicações são feitas com contribuições de usuários (pessoas comuns assim como eu e você), não tem a intenção de lucrar ilegalmente com o trabalho dos outros. Eu vejo esses sites que eu recomendo na coluna à direita do cifraamodaantiga como serviços de utilidade pública e cultural. Trata-se somente de uma divulgação cooperativa de informações. Não há como se fazer mistério com letras de música; as canções tocam no rádio, tocam na novela, estão no Youtube, e qualquer um pode transcrevê-las e... adivinhem: eis uma “publicação ilegal” da letra! Por que, então, implicar com um site em que usuários comuns enviam as transcrições das canções de seus ídolos? Há, inclusive, artistas que eles mesmos postam suas letras, ou as corrigem quando percebem que há erros. Sério, não duvidem disso.
Quem vai a shows eventualmente e gosta de se preparar para o evento, ouve os discos do artista, rememora as músicas, imprime as letras para ficar cantando, tudo para chegar no dia e ser parte do show, cantar junto tudo o que for possível. Esse é um clima legal num show.
Não sei em que medida há veracidade no conteúdo da mensagem, e caso seja absolutamente verdadeira, não podemos saber qual foi a motivação. Só sei que se alegaram que os CDs de Ana Carolina vêm com material impresso contendo as letras (eu sei porque eu tenho alguns CDs dela e eles realmente vêm com esse material), e que os fãs que compram os discos têm acesso a essas letras oficialmente, não há porque um site publicá-las sem a artista receber nada; sei que se isso foi a argumentação, não deve ter saído de um cérebro pensante. Porque isso é somente mesquinho e a atitude é antipática. Posso até assegurar que muitas dessas letras no site citado, entre outros, são enviadas pelos mesmos fãs que possuem os CDs, os DVDs, vão nos shows e gostam de compartilhar as letras de que gostam. Nesse sentido, contra quem que é a solicitação de retirar as letras do site, contra o site ou contra os fãs da artista?
E se a atitude é contra os fãs, quem acaba prejudicado lá pelas tantas é o próprio artista. Vou me usar como exemplo. Depois que li aquela mensagem já há uns vários meses atrás (e a mensagem ainda está lá hoje!) parei de ouvir Ana Carolina, pois isso me deu um desgosto grande. E posso dizer o porquê. Como diz Renato Russo em Bumerangue Blues, “tudo o que você faz, um dia volta pra você”. Uma atitude mesquinha como essa não gera uma energia boa, e o retorno para um artista mesquinho será fãs mesquinhos. Estou pasmo!
Quem quer ser artista de verdade deve querer a sua poesia na boca do povo, e não fechada num cofre de ignorância e de ganância; quem quer ser poeta deve, enfim, aprender com Sérgio Sampaio:
Cada Lugar Na Sua Coisa
Um livro de poesia na gaveta não adianta nada
Lugar de poesia na calçada
Lugar de quadro é na exposição
Lugar de música é no rádio
Ator se vê no palco e na televisão
O peixe é no mar
Lugar de samba enredo é no asfalto
Lugar de samba enredo é no asfalto
Aonde vai o pé arrasta o salto,
Lugar de samba enredo é no asfalto
Aonde a pé vai se gasta a sola
Lugar de samba enredo é na escola
http://letras.terra.com.br/sergio-sampaio/526072/
Solidarizo-me com os fãs e com o letras.mus.br contra este tipo de atitude censora que, pelo menos aparentemente, parte da própria artista ou de quem a assessora (mal, diga-se de passagem).
Até a próxima!
Luis Felipe
P. S. Não sei quem é o autor da ilustração, mas eu retirei-a do site http://linkpb.net/?m=20100611 tendo digitado na busca por imagens alusivas à censura.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Digo com todas as letras: roupa suja se lava no blog!
Bom, comecemos assim... Primeiro eu disse, numa postagem anterior, que não falaria de Chico Buarque, ever! Mas daí fui baixamente chantageado. Um amigo me ofereceu para publicar, com exclusividade aqui no cifraamodaantiga (pelo menos a exclusividade de ser o primeiro a publicar), uma caricatura feita por ele do Chico.
Claro, muitos podem pensar que é feio lavar roupa suja nos blogs, mas enfim. Foi baixaria mesmo. Porque eu sempre peço que ele faça umas ilustrações para as minhas postagens e elas nunca vem, então eu sempre coloco uns vídeos idiotas do Youtube, ou umas imagens cretinas catadas no Google, umas capas de umas revistinhas de cifras cheirando a mofo... Mas eu cedi à chantagem. Faço qualquer coisa por uma ilustração exclusiva para o blog. Mesmo que seja do Chico e que eu tenha que ir contra os meus princípios de não querer chover no molhado. Principalmente porque não sou muito criativo.
Eu tinha dito que me recusava a falar de Chico Buarque porque, provavelmente, já se disse tudo sobre ele. E também já se falou tudo e mais um pouco sobre a sua obra que, segundo creio, é o mais relevante de sua vida. Mas ao mesmo tempo eu disse, naquela mesma postagem, que saber sobre vida e obra de Chico contava pontos na tabela geral do flerte. Mostrar-se conhecedor de Chico conta pontos altíssimos. E se na noite da boemia o sujeito tirar um violão da manga e tocar Todo o Sentimento, bom... Segundo me disse meu amigo, lançando mão dessa estratégia, “Chico torna viáveis até os amores inviáveis”. Ele deve saber do que está falando.
Mas já que eu cedi a tão caro suborno, e comecei 2011 fazendo tudo errado, sendo completamente inescrupuloso com a obra alheia, vou chutar o balde mais ainda: vou colocar uma letra de uma música que eu mesmo compus há uns dois anos e que, depois de concluído o processo criativo e criado o produto, acabou virando, de certa forma, uma homenagem a Chico Buarque, e que também me recuso a comentar. Só digo que já que o Chico compôs os maiores clássicos com o tema separação (Trocando em Miúdos, Atrás da Porta, Gota d'Água, Eu Te Amo, trechos de João e Maria, entre outras), e considerando que o artista geralmente não canta a própria vida e que outro pode narrá-la; arrisquei-me, portanto, a tal heresia.
Confiram aí a letra, que já está musicada, e quando eu me dignar a fazer uma gravação decente, posso vir a publicar pelo blog! As aparentes referências a pessoas reais não tem necessariamente relação com a realidade (são quase que uma mera coincidência, um acidente no meio da criação poética). Tanto que o nome “Marieta” foi uma das últimas coisas a entrar nessa letra, cujo título Todas as Letras, estava definido desde o segundo verso. E “Marieta”, que não tinha sido pensada inicialmente, rimava mais ou menos com “todas as letras” na última estrofe, então... Tudo pelo bem da construção poética. Longe de mim querer falar de uma das separações mais comentadas de um dos nossos maiores artistas. Longe de mim querer cantar uma dor de verdade, uma dor de vidas vividas.
Todas as letras
com quantas letras se diz
não venha bancar a atriz
com a nossa situação
olha pra cá, por favor
me escuta com atenção
eu não me sinto feliz
suplicando teu perdão
por algo que eu não fiz
mas virou obsessão
enfim, eu quero dizer
que o nosso amor acabou
quem é que não percebeu?
e se o errado fui eu
você foi quem provocou
pois quando havia uma chance
de acender o romance
você me abandonou
e nem sequer me escutou
achando que era melhor...
...depois
tentou voltar mas não deu
o desencanto cresceu
você jamais mereceu
essa coisa de nós dois
escuta aqui, Marieta
digo com todas as letras
meu jeito manso se foi
e teu amor já não dói mais
em mim
Até a próxima!
Luis Felipe
[Cristiano, obrigado pela caricatura! Abraço, irmão.]
A prata da casa
Quando eu li esta crônica do Juremir Machado da Silva sobre o Nei Lisboa, no Correio do Povo, pulei pra trás de satisfação. Parecia um texto feito para este blog. Claro, não escrito por mim, obviamente, porque ele escreve muito melhor do que eu. Mas por achar que o texto tem tudo a ver com este espaço, e que agora em diante nem me atrevo a falar de Nei, eu transcrevo abaixo o conteúdo integral da coluna:
"Vapor do Nei
Nei Lisboa é muito bom. Sempre foi. Continua. O novo CD do nosso melhor músico gaúcho em atuação reúne seus clássicos (sim, Nei tem clássicos, o que é para poucos) e uma composição inédita, "Vapor da Estação", que dá título ao conjunto. Impressionam na arte de Nei a sutileza, a sofisticação, a elegância, os jogos de palavras inteligentes e a percepção justa, complexa e divertida do cotidiano. Nei é, ao mesmo tempo, compositor, observador da sociedade, antropólogo, autor de romance policial, poeta, boêmio, pai e cronista. Alguns dos seus achados honrariam as páginas dos melhores poetas do mundo, coisas como este "procurando Deus entre as folhagens do jardim" ou "eu quero é morrer bem velhinho, assim sozinho, ali bebendo um vinho, olhando a bunda de alguém". Bacana!
Custa crer que com "Vapor da Estação" Nei Lisboa esteja realizando a sua primeira turnê nacional. Se não fez antes, não foi certamente por falta de talento ou de convites. Como quase todo grande artista, Nei tem suas esquisitices. Talvez nunca tenha querido realmente passar pela vulgaridade de estabelecer-se no Rio de Janeiro ou em São Paulo para vender sua arte. Andou por lá. Não ficou. Voltou rapidamente para casa. Afinal, como os ouvidos de qualquer pessoa de bom gosto logo percebem, a arte de Nei é universal, mas com aroma local, exatamente como acontece com toda grande arte. Além de compor bem, Nei Lisboa tem uma voz linda, suave, quente, macia. Não faz esforço para cantar. Situa-se num lugar especial na galeria das belas vozes brasileiras. Não tem o vozeirão marcante de antigamente nem a falta de voz da atualidade.
"Um silêncio teu me pede pra voltar", diz Nei numa das suas canções mais sedutoras. Uma das suas habilidades é falar de amor sem pieguice. Para quem gosta de teorias ou de conceitos, Nei talvez possa ser rotulado de minimalista. Não há o menor excesso na sua música. Tampouco não é excessivo dizer que ele está entre os melhores compositores brasileiros atuais junto com Chico Buarque. Santo de casa, obviamente, dificilmente faz milagre. Nei faz. Construiu o seu espaço. No fundo, é um artista recatado. Nada pede, de nada reclama. Há um pouco de maldição nessa trajetória altiva e quase melancólica. Muitos se perguntam: por que Nei não é uma celebridade nacional? Porque não quis, não fez concessões, ficou por aqui, é sofisticado demais. Que sofisticação é essa? Uma sofisticação paradoxal, feita de simplicidade e leveza.
O Rio Grande do Sul tem sido feliz na geração de músicos admirados ou admiráveis. É o caso de Vitor Ramil, da banda Cachorro Grande, de Bebeto Alves e de tantos outros. A figura de Elis Regina paira soberana acima de todos. Porto Alegre pode dormir feliz. Tem Nei Lisboa como seu principal intérprete, aquele que sabe ler nas suas entrelinhas e expressar seus gemidos, suspiros e gritos de júbilo. Poucos cantaram como Nei os "Telhados de Paris". Poucos revelaram como ele a tragicômica falta de sentido desta nossa agridoce "vidinha burra". Num gesto radical de fã típico, dá para dizer: Nei é Nei."
Publicado no Correio de Povo em 29 de Novembro de 2010, na coluna de Juremir Machado da Silva.
Link para a fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=60&Caderno=0&Noticia=228204
A ilustração é a original da coluna (já que eu quis copiar, copiei tudo). Arte de Pedro Lobo.
Link para o website oficial do artista: http://www.neilisboa.com.br/
Feliz 2011 e sempre!
Até a próxima!
Luis Felipe