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sábado, 25 de setembro de 2010

Meus primeiros acordes - parte II

E foi mais ou menos assim. Meu pai já tinha tentado me passar alguma coisa, afinação, acordes, sei lá. Mas com dez anos eu achava as cordas do violão duras e me machucavam os dedos. Piá sensível de bosta! Eu era. Perdi uns três anos. Mas quem mandou ele ter aquele Gianini gigante? Ainda tenho esse violão, que está carecendo de uma reforma geral - e é mesmo sutilmente maior que boa parte dos violões. Até o tamanho do braço, o espaço entre as trastes. E o som que sai dele... ah, o som que sai!

Agora quebro o galho com um Tagima New Ventura, plugável e com afinador. Cá entre nós, mesmo com essa tecnologia toda, o Gianini é melhor. Acho que deve ter a ver com a madeira. O cheiro deles é diferente. O cheiro de madeira que vem da boca é diferente. E é provavelmente daí que vem a diferença no som. Mas o Gianini está para ir para um luthier para ser completamente reformado. Ele precisará ser todo desmontado e montado novamente, pois está todo rachado nas bordas, descolando as madeiras e perdendo o som que tinha. Uma tristeza.

Mas, voltando aos primeiros acordes, foi depois das tentativas do pai de me ensinar alguma coisa que vi um guri da minha idade, meu amigo Luciano, tocando I used to love her, do Guns'n'Roses. Meus olhos devem ter brilhado. Não era mais uma coisa de adultos. Se um moleque como eu tocava, como eu poderia ficar pra trás, tendo em casa o pai que tocava violão?

Só que mais ou menos nessa época meus pais se separaram. Nessa época meu pai se separava da minha mãe, mas não se separava do violão. Eu compreendo. Não compreendo como um tempo depois ele abandonou o violão num canto. Mais tarde eu resgatei o Gianinão e lhe restituí o orgulho de alegrar as rodas musicais. Mas antes disso, portanto, um pouco antes desse reencontro meu com o Gianinão, eu precisava de um violão para aprender a tocar, e ganhei, acho que de natal e aniversário, um Di Giorgio Nylon Estudo. Era um bom violão, mas como todo violão, sem a devida manutenção e os cuidados, ele se desintegrou ao ponto de eu nem lembrar que destino teve.

Ah, também toquei, antes de ganhar o meu primeiro violão, o Di Giorgio, um Gianini emprestado pela minha tia caçula. Era menor que o do pai, e também mais macio. Mas independente da dureza das cordas, não tinha mais volta. Eu comecei a aprender a tocar e não parei ainda. Ou não aprendi ainda, que também não deixa de ser uma forma legítima de ver a coisa.

Os primeiros acordes, a rigor, foram de coisas que eu ouvia na época e meus amigos já sabiam tocar - Guns'n'Roses, Legião Urbana, Metallica, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, música de igreja e música gauchesca, entre outros estilos. A gente não tinha mesmo uma "coerência", como parece que se exige nas atuais identidades "tribais" que oprimem o pobre jovem que só quer ser ele mesmo. A gente teve, numa época, a liberdade da falta de "coerência musical". Mas voltando ao assunto, meu pai quis me colocar na aula, no antigo Instituto Verdi, ali na Emílio Lúcio Esteves, (em Porto Alegre). A professora Úrsula queria que eu tocasse os cai-cai-balão dos manuais de violão para iniciantes. Eu queria tocar o que eu gostava de ouvir. Ela disse que era demais para mim, seria muito difícil. Eu não quis mais ir na aula. E comecei a tentar tocar com as revistinhas, pegando dicas dos meus amigos que já sabiam tocar. Dentro de pouquíssimo tempo, mais ou menos, eu tocava Oceano, do Djavan (era da trilha sonora de uma novela, acho que da Top Model, que foi a Malhação da minha adolescência). Eu estava tocando Oceano que tinha, de acordo com a revistinha que me "ensinou" a tocá-la, vinte acordes diferentes. 20 ACORDES!!! Ali eu sabia que eu poderia ter alguma autonomia para tentar aprender mais, e pegar mais músicas.

Na sequência de aprendizagens, vieram umas aulas no Instituto Prediger, quando eu achava que queria ser guitarrista, o curso de teoria musical na Escolinha de Música da OSPA e, finalmente, as aulas particulares de violão clássico com o professor Tiago Neumann, que me deram, mais do que conhecimento, um pouco de maturidade musical e contato com a obra de Léo Brower, João Pernambuco, Francisco Tárrega, Heitor Villa-Lobos, entre tantos outros. Mas esse capítulo está longe de ser terminado, em todos os sentidos...

Até a próxima!

Luis Felipe

[P.S. Os créditos da fotografia fico devendo. Primeiro pensei que fosse uma fotografia minha de um violão meu, mas não está nos documentos das fotos da minha máquina, então talvez não seja minha. Só posso afirmar que já estava no meu computador há tempos.]

2 comentários:

adriveras disse...

Que linda essa história, Felipe. Se tu tocares tão bem quanto escreves, quero te ouvir logo, logo!
beijos
Adri
pc.c. estou aguardando o encontro nosso e da Bia. vamos tomar um café.

Luis Felipe R. Freitas disse...

Adri! Quem dera eu tocasse ou escrevesse bem. Faço do meu feijão com arroz banquetes para mim mesmo, e vai que alguém mais também goste, né!? Muito obrigado pelo elogio e pelo incentivo.
p.s. quem sabe na próxima quinta se tu e a Betriz puderem? Combinamos pelo MSN. Beijos