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domingo, 26 de setembro de 2010

O amoroso Bebeto Alves das milongas

Bebeto Alves, lembram? Eu jamais esqueço dele. Não porque ele compôs Pegadas, talvez um pouco mais porque ele compôs Mais Uma Canção. Mas eu não me esqueço desse grande artista da música porque ele tem alguns discos primorosos de milongas. Acho que ele não deve ser muito reverenciado no meio dos tradicionalistas. Talvez eles até o escutem, mas o que eu acho estranho nessa turma é um pouco isso de excluir da vitrola do CTG os músicos que talvez transgridam os contornos exatos, absolutos e seguros do que eles consideram música gaúcha (ou música tradicionalista, mais estritamente falando). Aliás, parece que existe, entre os “entendidos”, uma discussão enorme sobre as diferenças entre música nativista, que é diferente de música tradicionalista, e que se tem pavor de “tchê music”, porque é muito alegrinha e é de alguma forma inspirada no axé music da Bahia. Mas música gaúcha, cá entre nós, não é um termo que pode de modo algum se restringir à música tradicionalista que tem o selo – essa o MTG aprova!

Eu incluo, à revelia dos patrões e dos donos dos sentidos do que é ou não gaúcho, eu incluo sob o termo “música gaúcha” também a música urbana, o samba, o hip-hop, e tudo mais que é feito nos limites geográficos do Rio Grande do Sul, talvez Santa Catarina também. Digo isso porque toda música feita por gaúchos para gaúchos (não só, mas principalmente, talvez) é música gaúcha. A música gaúcha tem o gosto da diversidade da salada cultural que é o Brasil. Onde encaixaríamos os veneráveis roqueiros do Cascavelletes e do TNT, o melhor rock gaúcho de todos os tempos? E o Nei Lisboa, o Bebeto Alves, a Cidadão Quem, o Nenhum de Nós, a Ultramen, entre tantos, tantos, inúmeros outros que não cabe enumerar aqui, senão sob o rótulo de música gaúcha? Sempre se escuta e se fala - música gaúcha urbana, pop-rock gaúcho... Enfim, tudo isso é música gaúcha.

Mas comecei esse texto para falar de uma canção que o Bebeto Alves canta, fiz esse preâmbulo todo aí em cima e não cheguei no assunto. O Bebeto Alves tem uns discos de milongas lindíssimas, que não sei se os patrões aprovam (porque o cara passeia por outros estilos, como o rock gaúcho urbano, ou é cantor de rock e passeia pelas milongas, enfim, isso não vem ao caso, apesar de ter vindo). E eu abri essa postagem para falar de uma delas – Amoroso, do CD Milongamento, de 1999. Acompanham o cantor, nas 14 faixas de pura simplicidade da terra e extrema beleza compostas por Mauro Moraes, o excelente violonista Marcello Caminha e o Clóvis “Boca” Freire, mandando muito bem também, no rabecão. Aí embaixo está a transcrição que fiz da letra (da mão do próprio compositor pode estar diferente):


Amoroso


Eu poderia falar de cavalos, de domas, galpões

de lidas vividas, de bravatas e causos

Mas resolvi falar de amor...


O amor que existe em mim

Que me alimenta e que me revigora

Nas horas de um mate nos pelegos do catre

Enquanto a lua se põe e o boi rumina o capim


Ilumina-se o pátio, as orquídeas em flor

As casuarinas do rancho...

Os recantos da dor

Quando a alma lá fora madura as amoras do teu desamor


Não vou me alongar comentando muito essa letra. Só um rápido comentário, se me permitem: ela tem um lirismo, no sentido de coisa encantadoramente poética, ao mesmo tempo que o eu-lírico se assume um tosco, um peão acostumado aos cavalos, que de repente resolve falar de amor. E o resultado dessa poesia (ou peãosia, eu hein!) com a mágica da música... ouçam! O quanto antes, porque o mundo pode acabar logo. Como ouvir a partir daqui, se o rapaz que escreve não colocou um Youtube da música ou link para download? Eis, portanto, a dica: acessem o site oficial do artista, www.bebetoalves.com.br, cliquem no link RÁDIOS e procurem pelo disco Milongamento e pela faixa Amoroso. Claro, quem fizer isso não vai deixar de passear pelo site, pelas músicas, pela história do Bebeto Alves y otras milongas más. Salve Bebeto.

Até a próxima,

Luis Felipe

2 comentários:

Jose Luis disse...

Felipe!
Você tem uma sensibilidade poético-musical que coincide, e muito, com a minha... quando conheci as músicas de Mauro Moraes, belíssimas, na voz de Bebeto Alves, que conheço há longa data... fiquei impressionado...o conjunto da obra, dos dois discos, é fantástico...cheguei a comprar um violao campeiro pra aprender a tocar e cantar milongas......só as que compunham o disco já me bastava... a bem da verdade, não aprendi, ainda...
Apesar de já ter assistido vários shows do Bebeto Alves, lamento não ter assistido nenhum com este repertório.......vasto, rico e raro...mais uma vez...PARABÉNS.......precisamos no Rio Grande de pessoas com esta sensibilidade..........forte abraço !

Luis Felipe R. Freitas disse...

Obrigado, José Luis!
Abraço!