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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Só você, violão, compreende porque...




Árida Saudade

Gm7 A7
Quando você não estava aqui
Ebº B7/D# E7/(9-)
A tristeza fez o meu mundo secar
Am7 A#º
Lágrimas faltaram, lastimas sobraram
F#m7/5- B7
Onde era oceano, ficou o deserto

Gm7 A7
Quero você, quero aqui
Ebº B7/D# E7/(9-)
Árida saudade, não quero mais
Am7 A#º
São as leis do amor, se água molha a flor
F#m7/5- B7 Gm7 D7
O mundo é o errado, nós somos o certo

G7+ G#º Am7 D7/9
Você voltou e a sede acabou
D7 D7/9- G7+ D7
Fez inundar minha vida com a sua verdade
G7+ G#º Am7 D7/9
Você chegou e a seca terminou
D7 D7/9- G7+ D7
Fez transbordar de luz e de felicidade

Em F#7
Mata a minha sede, rega meu jardim
F#m7/5- B7 G7(5+)
Amor, por favor não se esqueça de mim
F#m7/5- B7 G7(5+)
Amor, por favor não se esqueça de mim
F#m7/5- B7 Gm7
Amor, por favor não se esqueça de mim

Dessa vez quero falar de outra cara que transita entre estilos com desenvoltura e não deve nada pra ninguém. Estou falando de Tonho Crocco, da banda Ultramen ("aquela díííííííívida", com o Rappa, lembram?). Aqui, no entanto, ele aparece numa manifestação sambística de primeira qualidade, com Árida Saudade. Pensei que eu teria a chance de falar como o clipe dessa música foi inspirado no antigo programa Ensaio da TVE, porque eu percebi isso quando o vi, mas esse trem já tinha partido. Está tudo na descrição do vídeo no Youtube postado pelo próprio compositor (eu acho), e que eu transcrevo abaixo:

O vídeo é uma escancarada e assumida homenagem ao programa ENSAIO criado pelo jornalista Fernando Faro em 1970. Grandes nomes da MPB como Cartola, Pixinguinha e Jacob do Bandolim mostravam sua arte em preto e branco, ao vivo e sem o áudio do entrevistador.

Sobrou pra mim somente a oportunidade de dizer que Crocco coloca seus óculos escuros no começo do vídeo, e isso, seja intencional ou não, faz uma certa referência, na minha hipótese, ao Cartola ali citado, que sempre usava óculos escuros. Inclusive é possível achar vídeos do Cartola com seus famosos óculos escuros no Youtube, vídeos do próprio programa Ensaio ao qual este faz referência. A referência aos óculos escuros de cartola é um pouco recorrente na MPB, tem inclusive uma canção com esse nome, Óculos Escuros de Cartola, de Max de Castro. Enfim. Enjoy the video and the samba of the balacobaco!

Sobre a cifra – está no tom correto e bem harmonizada, mas alguns acordes podem estar diferentes do arranjo tocado no vídeo. Considerem a minha cifra uma simplificação da música para violão e voz. Sugestões serão bem vindas.

Até a próxima!

Luis Felipe

P.S. O título da postagem é verso de uma canção de Cartola, Cordas de Aço, uma entre tantas pedras preciosas do baú do tesouro que é a música brasileira, cuja continuação é "só você violão compreende porque perdi toda a alegria".

terça-feira, 28 de setembro de 2010

É fogo, mora!?

Vitor Ramil bebeu da fonte da Jovem Guarda. O diálogo que ele estabelece, por exemplo, em sua composição Não É Céu com Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, renderia uma análise riquíssima. A análise riquíssima, que alguém aí pode ser capaz de fazer, o cifraamodaantiga vai ficar devendo. Sempre. O dever em primeiro lugar. Mas existem condições genuínas, aqui, de se apresentar análises modestas – um cara falando de música e de letras de música como numa conversa com os amigos no bar, sem rigores e preocupações maiores.

A questão da autoria é, cada vez mais, uma coisa complicada e delicada. Sobre a questão da originalidade, levaria o resto do ano para ser discutida. Não existe originalidade absoluta e ponto final. Mas por que precisaria do resto do ano para discutir se isso é intransigível? Porque entre não haver originalidade absoluta possível e as sutilezas do que se cria e parece novo, aí sim, bem nesse espaço do vácuo entre o já-existente e o que não o é ainda, reside um universo de possibilidades. Tudo parte de alguma coisa e tudo faz parte de alguma coisa. No mínimo, as questões relacionáveis ao meio onde cada obra é produzida criam limites que não permitem com que uma obra criada nesse meio seja extremamente original.

A obra sofre dessas restrições, sim, da ordem do espaço (meio) do tempo (contemporaneidade) e da cultura (o que se produz no mesmo tempo e no mesmo espaço). Também se fala muito, em música, em “influências”. Mas as influências, os músicos que um compositor ouvia ou mesmo queria imitar, não necessariamente aparecem na obra deste. Isso só vai ter importância na biografia, o que não nos interessa agora. O que aparece e pode ser sublinhado são as “referências”, explícitas ou implícitas. Não existe música, estilo musical, etc, que não remeta, em maior ou menor medida, a outras músicas, estilos musicais e etc. Até quando são diametralmente opostos, fazem referência, justamente de oposição. Os pobres dos compositores deveriam, então, estar desolados devido a essa prisão que lhes impossibilita a originalidade? Não acho. Essas “restrições” significam somente que se está fazendo parte de alguma coisa maior que já existe, e isso na verdade é consolador. É isso que possibilita qualquer produção, até as que se propõem a mudar paradigmas na história.

É nesse ponto, justamente, que se diferenciam uns compositores de outros. Porque há compositores e compositores. São mais "espertos", pode-se dizer, os autores que sabem reconhecer e fazer diferentes formas de referência ao que veio antes de si e que estes, em certa medida, re-produzem. Não importa se fazem isso conscientemente ou intuitivamente, porque isso é um caso de gênio criativo. O que importa é que há os que fazem referência à referência: eis o lugar do deleite de quem analisa, por exemplo, letras de música para além das imagens tradicionais de rima, contagem de sílaba, aliteração, entre outras. Esse é o caso desses caras aí de quem este texto está tratando.

Por uma questão de ordem cronológica, Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, evidentemente, vem muito antes. E, de certa forma, marca uma geração (um pouco anterior à minha, diga-se de passagem). Não vou falar do questionamento que se fez de música não-engajada numa época em que a palavra questionadora no seio da produção artístico-musical podia ser considerada subversiva. Quero Que Vá Tudo Pro Inferno é uma forma de alienação assumida e isso nem precisa se discutir. Mas, vejam bem, não foi uma “alienação” relacionável à vida política. É uma canção romântica e, nesse sentido, sugere uma alienação em relação a tudo mais que não a seja a musa que poderia aquecer o poeta no inverno. Esse "tudo", inclusive, está no título.

É justamente com o fato da composição de Roberto e Erasmo se tratar de uma canção romântica (e sensual!) que Vitor Ramil dialoga. Não estou dizendo que ele fez Não É Céu para “responder”, plagiar, satirizar, parodiar, arremedar ou qualquer coisa que fizesse associar explicitamente uma canção a outra. Nada disso. Essas músicas nem são em nada parecidas. Trata-se, não de uma relação ética conflituosa entre compositores, se tem alguém que pensou esse tipo de coisa, trata-se de uma referência, com marcas características encontráveis aqui e ali na letra, quiçá na própria música, o que seria mais um caso de “homenagem”. A referência é uma homenagem, mesmo quando não muito elogiosa. A relação entre essas duas letras é muito sutil, mas depois que observada com a lupa do entendimento do processo composicional (levando em conta principalmente a questão da referência aos mestres antecessores) parece evidente.

Observem, na relação de oposição ou complementaridade, nessa ordem, que existe entre se perguntar “de que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar?”, e se replicar dizendo que “não, não é céu sobre nós”. E entre se dizer “quero que você me aqueça nesse inverno” e “fica comigo, me abraça que calor melhor a rua não dá”. É disso que estou falando. Que alguma coisa tem a ver.

Outra referência muito interessante, ao mesmo tempo que um tanto dissimulada, é ao próprio dito atribuído justamente a Roberto Carlos no programa Jovem Guarda da TV Record dos anos 60, a expressão que se cristalizou e se disseminou – É uma brasa, mora!

Ramil brinca com essa expressão dizendo, em sua letra - "é fogo, mora/ gente na brasa a gritar lá fora/ só nos falta Nero cantar". E mais adiante -"é fogo, mora/ deixa essa brasa lá fora/ deixa o mundo todo queimar".

Outras partes das duas letras não teriam muita relevância para se falar de referência, portanto não as citarei. Exceção feita à genial sacada em "fica comigo me abraça, que calor melhor a rua não dá", ao mesmo tempo que o mundo lá fora está incendiando. É preciso ser mais explícito quanto ao sentido possível de "calor melhor"? O calor do fogo pode ser maior, mas o calor do abraço dos amantes é, sem dúvida, melhor.

Além disso tudo que foi dito que já convenceu - pelo menos a mim - do que eu mesmo estou dizendo, a canção de Vitor Ramil explora a ideia de sensualidade também musicalmente, e não só textualmente na letra, como acontece na canção de Roberto e Erasmo. Há em Não É Céu uma batida de contrabaixo que imita batida de tambores rituais do mítico "sacrifício das virgens" na era pré-civilizada, aquele saxofone meio hipnótico num crescendo em direção ao grand finale, há um mundo queimando lá fora apocalipticamente, e isso é de uma sensualidade tal, mais do que romance de passear de mãos dadas que as músicas da Jovem Guarda sugerem. Não que isso seja problema. Essa inocência nas canções do ie-ie-ie as constitui, e mesmo isso tem exceções, de que falaremos eventualmente. Mas em Não É Céu parece haver uma sensualidade sensual, se mais que uma redundância isso possa fazer sentido. “Dia nascendo normal e a gente acorda e não costuma gritar” diz o amante que goza aos berros, mais ao final da letra de Ramil, numa interpretação (minha) cheia de segundas intenções para o sentido da letra.

E quem não conhece ainda, está esperando o que para conhecer a canção do Vitor Ramil? É um manual de sobrevivência dos amantes, no caso de o mundo amanhecer incendiando...

Até a próxima.

Luis Felipe


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amoroso ainda

Como o cifraamodaantiga é um blog em que se fala, entre outras coisas, de cifras propriamente ditas, um amigo e leitor do blog que foi ouvir a música da postagem anterior, O amoroso Bebeto Alves das milongas, no site oficial do Bebeto Alves, me pediu para publicar a cifra de Amoroso. Ele tem razão, não está em nenhum outro site de cifras, e eu nem pesquisei tanto assim. Então, a pedidos, publico-a logo abaixo. Quem quiser se aventurar a tocar pela minha cifra aqui precisa tomar o cuidado de acertar a troca de acordes de acordo com a música ouvindo-a, porque no editor de texto daqui do Blogger não sai bem certinho como a gente faz no bloco de notas (notepad) os acordes em cima das palavras, se me faço entender.

O crédito da imagem: El gaucho, uma tentativa com bico-de-pena, de Cristiano Teles, sem a autorização expressa do autor, mas acho que ele não vai se importar, contanto que eu faça a devida divulgação do blog http://searrependimentomatasse.blogspot.com. Quem entrar lá já dá uma passeada nos excelentes desenhos, caricaturas, quadrinho e tirinhas, entre outras coisas.



Amoroso

A7+ C#m7 D7+
Eu poderia falar de cavalos, de domas, galpões
D#º E7
de lidas vividas, de bravatas e causos
E7/9- A7+
Mas resolvi falar de amor...

A#º Bm7
O amor que existe em mim
E7/9- E7 C#m7
Que me alimenta e que me revigora
F#7/9- F#7 Bm7
Nas horas de um mate nos pelegos do catre
E7/9- E7 A7+
Enquanto a lua se põe e o boi rumina o capim

A#º Bm7 E7/9-
Ilumina-se o pátio, as orquídeas em flor
E7 C#m7
As casuarinas do rancho...
F#7/9- F#7
Os recantos da dor
Bm7 E7/9- E7 A7+
Quando a alma lá fora madura as amoras do teu desamor



P.S. O link direto para a imagem do El gaucho, na fonte, é http://searrependimentomatasse.blogspot.com/2010/03/el-gaucho.html#links

domingo, 26 de setembro de 2010

O amoroso Bebeto Alves das milongas

Bebeto Alves, lembram? Eu jamais esqueço dele. Não porque ele compôs Pegadas, talvez um pouco mais porque ele compôs Mais Uma Canção. Mas eu não me esqueço desse grande artista da música porque ele tem alguns discos primorosos de milongas. Acho que ele não deve ser muito reverenciado no meio dos tradicionalistas. Talvez eles até o escutem, mas o que eu acho estranho nessa turma é um pouco isso de excluir da vitrola do CTG os músicos que talvez transgridam os contornos exatos, absolutos e seguros do que eles consideram música gaúcha (ou música tradicionalista, mais estritamente falando). Aliás, parece que existe, entre os “entendidos”, uma discussão enorme sobre as diferenças entre música nativista, que é diferente de música tradicionalista, e que se tem pavor de “tchê music”, porque é muito alegrinha e é de alguma forma inspirada no axé music da Bahia. Mas música gaúcha, cá entre nós, não é um termo que pode de modo algum se restringir à música tradicionalista que tem o selo – essa o MTG aprova!

Eu incluo, à revelia dos patrões e dos donos dos sentidos do que é ou não gaúcho, eu incluo sob o termo “música gaúcha” também a música urbana, o samba, o hip-hop, e tudo mais que é feito nos limites geográficos do Rio Grande do Sul, talvez Santa Catarina também. Digo isso porque toda música feita por gaúchos para gaúchos (não só, mas principalmente, talvez) é música gaúcha. A música gaúcha tem o gosto da diversidade da salada cultural que é o Brasil. Onde encaixaríamos os veneráveis roqueiros do Cascavelletes e do TNT, o melhor rock gaúcho de todos os tempos? E o Nei Lisboa, o Bebeto Alves, a Cidadão Quem, o Nenhum de Nós, a Ultramen, entre tantos, tantos, inúmeros outros que não cabe enumerar aqui, senão sob o rótulo de música gaúcha? Sempre se escuta e se fala - música gaúcha urbana, pop-rock gaúcho... Enfim, tudo isso é música gaúcha.

Mas comecei esse texto para falar de uma canção que o Bebeto Alves canta, fiz esse preâmbulo todo aí em cima e não cheguei no assunto. O Bebeto Alves tem uns discos de milongas lindíssimas, que não sei se os patrões aprovam (porque o cara passeia por outros estilos, como o rock gaúcho urbano, ou é cantor de rock e passeia pelas milongas, enfim, isso não vem ao caso, apesar de ter vindo). E eu abri essa postagem para falar de uma delas – Amoroso, do CD Milongamento, de 1999. Acompanham o cantor, nas 14 faixas de pura simplicidade da terra e extrema beleza compostas por Mauro Moraes, o excelente violonista Marcello Caminha e o Clóvis “Boca” Freire, mandando muito bem também, no rabecão. Aí embaixo está a transcrição que fiz da letra (da mão do próprio compositor pode estar diferente):


Amoroso


Eu poderia falar de cavalos, de domas, galpões

de lidas vividas, de bravatas e causos

Mas resolvi falar de amor...


O amor que existe em mim

Que me alimenta e que me revigora

Nas horas de um mate nos pelegos do catre

Enquanto a lua se põe e o boi rumina o capim


Ilumina-se o pátio, as orquídeas em flor

As casuarinas do rancho...

Os recantos da dor

Quando a alma lá fora madura as amoras do teu desamor


Não vou me alongar comentando muito essa letra. Só um rápido comentário, se me permitem: ela tem um lirismo, no sentido de coisa encantadoramente poética, ao mesmo tempo que o eu-lírico se assume um tosco, um peão acostumado aos cavalos, que de repente resolve falar de amor. E o resultado dessa poesia (ou peãosia, eu hein!) com a mágica da música... ouçam! O quanto antes, porque o mundo pode acabar logo. Como ouvir a partir daqui, se o rapaz que escreve não colocou um Youtube da música ou link para download? Eis, portanto, a dica: acessem o site oficial do artista, www.bebetoalves.com.br, cliquem no link RÁDIOS e procurem pelo disco Milongamento e pela faixa Amoroso. Claro, quem fizer isso não vai deixar de passear pelo site, pelas músicas, pela história do Bebeto Alves y otras milongas más. Salve Bebeto.

Até a próxima,

Luis Felipe

sábado, 25 de setembro de 2010

Meus primeiros acordes - parte II

E foi mais ou menos assim. Meu pai já tinha tentado me passar alguma coisa, afinação, acordes, sei lá. Mas com dez anos eu achava as cordas do violão duras e me machucavam os dedos. Piá sensível de bosta! Eu era. Perdi uns três anos. Mas quem mandou ele ter aquele Gianini gigante? Ainda tenho esse violão, que está carecendo de uma reforma geral - e é mesmo sutilmente maior que boa parte dos violões. Até o tamanho do braço, o espaço entre as trastes. E o som que sai dele... ah, o som que sai!

Agora quebro o galho com um Tagima New Ventura, plugável e com afinador. Cá entre nós, mesmo com essa tecnologia toda, o Gianini é melhor. Acho que deve ter a ver com a madeira. O cheiro deles é diferente. O cheiro de madeira que vem da boca é diferente. E é provavelmente daí que vem a diferença no som. Mas o Gianini está para ir para um luthier para ser completamente reformado. Ele precisará ser todo desmontado e montado novamente, pois está todo rachado nas bordas, descolando as madeiras e perdendo o som que tinha. Uma tristeza.

Mas, voltando aos primeiros acordes, foi depois das tentativas do pai de me ensinar alguma coisa que vi um guri da minha idade, meu amigo Luciano, tocando I used to love her, do Guns'n'Roses. Meus olhos devem ter brilhado. Não era mais uma coisa de adultos. Se um moleque como eu tocava, como eu poderia ficar pra trás, tendo em casa o pai que tocava violão?

Só que mais ou menos nessa época meus pais se separaram. Nessa época meu pai se separava da minha mãe, mas não se separava do violão. Eu compreendo. Não compreendo como um tempo depois ele abandonou o violão num canto. Mais tarde eu resgatei o Gianinão e lhe restituí o orgulho de alegrar as rodas musicais. Mas antes disso, portanto, um pouco antes desse reencontro meu com o Gianinão, eu precisava de um violão para aprender a tocar, e ganhei, acho que de natal e aniversário, um Di Giorgio Nylon Estudo. Era um bom violão, mas como todo violão, sem a devida manutenção e os cuidados, ele se desintegrou ao ponto de eu nem lembrar que destino teve.

Ah, também toquei, antes de ganhar o meu primeiro violão, o Di Giorgio, um Gianini emprestado pela minha tia caçula. Era menor que o do pai, e também mais macio. Mas independente da dureza das cordas, não tinha mais volta. Eu comecei a aprender a tocar e não parei ainda. Ou não aprendi ainda, que também não deixa de ser uma forma legítima de ver a coisa.

Os primeiros acordes, a rigor, foram de coisas que eu ouvia na época e meus amigos já sabiam tocar - Guns'n'Roses, Legião Urbana, Metallica, Engenheiros do Hawaii, Barão Vermelho, música de igreja e música gauchesca, entre outros estilos. A gente não tinha mesmo uma "coerência", como parece que se exige nas atuais identidades "tribais" que oprimem o pobre jovem que só quer ser ele mesmo. A gente teve, numa época, a liberdade da falta de "coerência musical". Mas voltando ao assunto, meu pai quis me colocar na aula, no antigo Instituto Verdi, ali na Emílio Lúcio Esteves, (em Porto Alegre). A professora Úrsula queria que eu tocasse os cai-cai-balão dos manuais de violão para iniciantes. Eu queria tocar o que eu gostava de ouvir. Ela disse que era demais para mim, seria muito difícil. Eu não quis mais ir na aula. E comecei a tentar tocar com as revistinhas, pegando dicas dos meus amigos que já sabiam tocar. Dentro de pouquíssimo tempo, mais ou menos, eu tocava Oceano, do Djavan (era da trilha sonora de uma novela, acho que da Top Model, que foi a Malhação da minha adolescência). Eu estava tocando Oceano que tinha, de acordo com a revistinha que me "ensinou" a tocá-la, vinte acordes diferentes. 20 ACORDES!!! Ali eu sabia que eu poderia ter alguma autonomia para tentar aprender mais, e pegar mais músicas.

Na sequência de aprendizagens, vieram umas aulas no Instituto Prediger, quando eu achava que queria ser guitarrista, o curso de teoria musical na Escolinha de Música da OSPA e, finalmente, as aulas particulares de violão clássico com o professor Tiago Neumann, que me deram, mais do que conhecimento, um pouco de maturidade musical e contato com a obra de Léo Brower, João Pernambuco, Francisco Tárrega, Heitor Villa-Lobos, entre tantos outros. Mas esse capítulo está longe de ser terminado, em todos os sentidos...

Até a próxima!

Luis Felipe

[P.S. Os créditos da fotografia fico devendo. Primeiro pensei que fosse uma fotografia minha de um violão meu, mas não está nos documentos das fotos da minha máquina, então talvez não seja minha. Só posso afirmar que já estava no meu computador há tempos.]

Cifra à moda antiga – situando o leitor II

Não, não, não...

O título do blog não sugere que a cifra mudou ou segue modas. O sistema de cifragem é rigorosamente o mesmo desde... (tá bom, não sei desde quando).

Quando eu pensei neste nome para o blog, foi relacionando-o justamente à idéia das revistinhas de cifra, que eu não encontro mais. E também não procuro, aliás. Tanto porque eu mesmo faço minhas cifras, tirando as músicas de ouvido, como também é possível encontrar tudo nas ferramentas de busca eletrônicas (o Google, por exemplo). Há, inclusive, alguns sites bastante conhecidos de cifra, como esse aí da imagem acima. Mas o que estou querendo dizer é que uma maneira de tocar violão, por cifra, mudou. Antigamente a gurizada ia nas bancas, folheava e escolhia as revistinhas. Embora não fossem caras, não se podia comprar todas as que se queria. Por isso, depois de talvez ter decorado as melhores músicas de uma edição, a gente trocava as revistinhas uns com os outros. Existia mais interação social de pessoa com pessoa real na rua, eu acho.

Sobre “tocar por cifra”, naturalmente que o músico não pode se limitar a isso. Mas é muito importante saber ler cifras, que é um sistema simples para escrever nomes de acordes, dos mais simples aos mais complexos.

Para quem não sabe, a cifra é o nome do acorde, assim completinho, com nome e sobrenome. Nas revistinhas antigas e nos sites atuais, acompanhado à música – letra e cifra – vem o desenho dos acordes no braço do violão, como na figura acima. Eis, abaixo, um exemplo de letra com cifra:

G#m7 C#7/9-

Que reste-t-il de nos amours

A#m7 D#7/9-

Que reste-t-il de ces beaux jours

G#m7 C#7/9-

Une photo, vieille photo

F#7+

De ma jeunesse


Sendo – G#m7 – sol sustenido menor com sétima. Simples, né?

Até a próxima!

Luis Felipe

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Meus primeiros acordes

Essa editora, lá pelos idos das décadas de 1970-80, publicava revistinhas com músicas cifradas. Eu tenho várias guardadas e vou colocando as capas aqui no blog aos poucos, junto com algumas poucas palavras sobre alguma coisa que eu achar pertinente dizer. Lamentavelmente, de mais ou menos uma centena de edições (não sei ao certo), eu não devo ter nem vinte. Não se trata exatamente de uma "coleção completa". Mas dá pra fazer um belo omelete desses ovos, ou uma caipirinha desses limões. Metáfora à escolha do leitor.

O ilustrador das capas assinava com o nome de Getúlio. Um grande profissional da pintura, desenho e ilustração, ele devia ser, ou ainda é, mas não sei muito mais informações sobre ele. Um grande amigo meu sabe a biografia de provavelmente todo ilustrador e desenhista de que sem tem notícia. Talvez ele saiba alguma coisa e nos conte eventualmente.

Na década de 1990, um pouco do final da década de 1980, talvez, a Imprima, uma editora de São Paulo, assumiu o mercado de revistinhas de música cifrada, salvo engano. Mas parte da bela arte nas capas já tinha declinado forever. A Imprima usava fotografias públicas dos artistas. O efeito era meio brega mesmo.

Claro que as revistas com as capas legais eram as do meu pai, porque na década de 1980 eu era meio piá e não tocava violão ainda (nasci em 1977). Eu já peguei a fase da decadência em pleno vapor. Junto com a decadência das capas de revistinhas de música cifrada vieram, na época, o Plano Collor, a separação dos meus pais, a experimentação das diferentes formas de fugir da realidade e, com tudo isso, peguei o violão e as revistinhas do pai e me fechei no quarto. Houve quem dissesse que meu refúgio era na música. Ainda é, mas a vida é boa. Acho que a gente se refugia na música, sim, mas se abriga na música antiga protegendo-se da música atual. Talvez... (Voltarei a esse assunto oportunamente, porque há boa música sendo feita atualmente, sim. É necessário saber buscar fora dos meios muito comerciais.)

Minha mãe é dessas pessoas que insistem em colocar no lixo tudo o que "não tem serventia". Mas por alguma razão, entre tantas rebeldias na adolescência, mesmo não conhecendo bem aquelas músicas que meu pai não tocava mais, eu quis guardar as revistinhas. E não é que meio recentemente apenas, com uns trinta anos na cara, que eu comecei a observar que maravilhas de ilustrações eram aquelas? Há imagens que falam por si, e da mão do artista cria-se a beleza.

As músicas das tais revistinhas eu acabei conhecendo ao longo das últimas décadas e, consequentemente, ampliando bastante meus horizontes musicais. E quero conhecer mais, sempre! Letras de música, para mim, são motivo de fascínio. Minto, são razão de viver. Não me imagino num mundo sem música. Sem poesia. Sem o lirismo das lyrics. Não é por acaso que já me arrisquei a compor algumas músicas e escrever algumas letras que, segundo amigos próximos e sinceros, são boas... Mas antes vamos aos compositores e letristas consagrados. E aos poucos, como convém a um blog!

Até a próxima.

Luis Felipe

Cifra à moda antiga - situando o leitor

Faz algum tempo que penso em falar de música assim, "publicamente". A idéia do blog, à qual eu fui resistente no começo, só frutificou quando eu percebi que, para não ficar muito enfadonho - só texto - deveria ter algo de visual, figura ou desenho, etc. Foi aí que, como uma epifania, eu lembrei daquela humilde pilha de revistinhas de cifra antigas, guardadas dentro de um saco plástico numa estante fechada: as ilustrações do Getúlio! Belíssimas.

Comecei a tocar violão com uns 12 e 13 anos, influenciado pelos amigos, apesar de meu pai tocar violão... é uma história complicada! Não vem ao caso. O que vem ao caso, e é aqui que quero situar o leitor, são alguns poucos objetivos que pretendo desenvolver daqui por diante com este blog: falar de música, falar de letras de música, e eventualmente mostrar imagens associadas à música, sejam elas capas de discos, de revistinhas de cifras, gravuras diversas, símbolos, etc.

Em outras palavras, esse blog será especializado em letra e música, com algumas imagens para quebrar a monotonia. Mas terá principalmente "análises" mistas (impressionistas, apreciativas, discursivas, etc) e feitas por um pretenso especialista (ou especialista pretensioso, que não deve ser a mesma coisa...). Em outras palavras, vou falar o que me der na telha!

Até a postagem que vem!

Luis Felipe