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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Rodinha de violão e festas de final de ano

Primeiro pensei em chamar este texto de “Porque eu odeio rodinhas de violão e festas de final de ano”. Depois pensei que, apesar da conjunção aditiva, por um lado, a ordem linear sintagmática não garantiria a explicativa na dimensão de cada coisa. Só não gosto quando acontecem juntas, e sob determinadas circunstâncias desfavoráveis. Mas ainda tentando escrever um título decente para a postagem, fui reformulando, troquei o “e” por “com”, por “em”, e fui parafraseando, para enfim me dar conta que não tinha jeito, o efeito era sempre ruim e sempre soaria mal humorado. O mal humorado da turma. Não sou isso. Pelo menos nem sempre.

Claro que fica parecendo um pouco aquele programa Cilada, o episódio Festas de Final de Ano da Firma, no momento em que lá pelas tantas um dos “colaboradores” da empresa, bebaço, pega um violão e começa a tocar o maior hit do Wando (“você é luz, é raio, estrela e luar...,”) para ver se consegue alguns sorrisos, alguns aplausos e finalmente uma história com a loirinha nova que chegou para o setor da contabilidade. Eu hein... Programa muito brega falando de uma situação mais brega ainda e com a trilha sonora em questão... eu fora!

Eu nunca fui de me escalar para tocar nas tais festas. Sou tímido. E acho que canto mal (mas pelo menos dizem que eu toco razovelmente bem – ufa!). Mas dessa vez, assim como no ano passado, embora em um trabalho diferente, fui intimado a tocar na festa de final do ano. Que situação...

Aí que me vem toda a memória ruim das tais “rodinhas de violão” em festas com bastante gente, e muita gente que não conhece você direito. Porque é complicado mesmo. Quem toca alguma coisa sabe. Considerando a carência de educação musical que assombra nossa população, as pessoas não sabem que os músicos, como membros de, digamos, um específico grupo social – os artistas - fazem a sua arte para se expressar. Mas este, em si, não é o problema. O problema é que as pessoas acham que porque você toca violão você é capaz de tocar qualquer coisa, como se você fosse um aparelho de CD Player, MP3 Player, e etc – basta apertar o play.

Mas o pior são os pedidos. Porque desde os mais modestos “tocadores de violão” até os mais sofisticados violonistas, geralmente, têm seu repertório. Mais complicado é quando você tem um repertório, mesmo se vasto, elegante ao seu gosto, e a plateia lhe pede –“ toca aquela do Tomás Chocado e do Vilso Frido, A Reta Abunda”. Pelo menos o título da “canção” indica como vai ficar a sua cara...

E não adianta. Eu tenho amigos de vinte anos (de vinte anos de amizade) que dizem que eu toco de tudo. É mentira. Eu toco meia dúzia de músicas. Eventualmente me interesso por uma ou outra e tento tirar. E duvido que tenha alguém que toque de tudo e toque bem. É possível tocar de tudo de qualquer jeito. Mas é uma prostituição, de alguma forma.

Os músicos que tocam em bar procuram agradar a plateia. E entre músicos mais metidos a besta existe a discussão sobre o que tocar. Mas os que ganham algum dinheiro tocando de tudo estão certos, eu acho. Querem viver de música. Eu também gosto de ir num bar onde tem alguém cantando e tocando bem um repertório variado, se adequado ao meu gosto. Já vi músicos de bar que carregavam pastinha de repertório, com cifras, às vezes pegando músicas meio que de improviso. Isso é possível. Mas não é verdade.

Não é verdade no sentido de que isso seja uma manifestação artística – está mais para uma manifestação mecânica, pois o artista, cada vez mais, para agradar a um público aleatório tem que se parecer com a máquina, como o CD Player, ou qualquer outro player. Mas nem todo mundo que toca gosta disso. Muitos gostam, na verdade, de tocar seu repertório. Tomem como exemplo os artistas de renome. Eles tocam seu repertório, inclusive emitem para a imprensa, em caso de shows grandes, uma lista de provável repertório. Porque eles ensaiam aquelas canções, talvez até trazendo algo novo nos arranjos. E talvez sejam artistas de renome porque não se abriram demais a pedidos. Não tenho certeza. Mas um músico se apresentando não é, jamais, um aparelho de reprodução. É, na verdade, um ser humano, sujeito ao erro, e que se prepara para o evento, considerando seus limites (cansaço, memória, disposição, etc) e que se apresenta porque gosta do que faz, e não porque "tem que" fazer.

Por isso que não gosto muito das rodas de violão. Gosto de me apresentar, até, para públicos pequenos, de gente educada, para poder direcionar a minha apresentação para o repertório que eu escolher, porque o tenho mais ou menos bem ensaiado. E até composições próprias, que embora possam ser canções modestas, eu me orgulho de mostrá-las. Às vezes.

Para a semana que vem, no meu trabalho, pediram-me para “dar uma canja” na festa de confraternização. Eu topei, mas condicionei, de certa forma, que eu elegeria o repertório. Assim, escolho um entre dois embaraços – ou não saber tocar o que me pedem, ou não agradar com o meu repertório. Fico com esta última alternativa porque ela é um investimento de longo prazo. Se meu repertório não agradar, provavelmente não me convidarão no próximo ano. Se agradar, me transformo no seresteiro oficial da turma.

Até a próxima (se eu sobreviver aos tomates...)

Luis Felipe


P.S. Link para a origem da caricatura, o blog do caricaturista: http://alvarocabral.blogspot.com/2010/08/wando-caricatura.html

3 comentários:

Aldo Jung disse...

Quááá!
No próximo fim de ano me convida pra uma festa em que vão te pedir pra tocar.
Prometo que levo um repertório de pedidos bem originais.

Anônimo disse...

Irmão, dá uma olhada em http://www.censuramusical.com.br
Pode surgir mais uma daquelas tuas idéias maluco-genias (tipo buco-faciais, saca?).
Beijo!

Rafael disse...

cara, eu sinto sua dor, tambem toco violao...toco ate em banda, meu maior problema e que nao canto, canto mal...Eu sei o quanto e chato voce saber muitas musicas e uns fdp pedir umas parada que se nao sabe...
Isso nunca vai mudar voce tem que aceitar que e assim que vai ser, e se como disse, se voce quiser agradar a galera, tem que procura aprender musicas que a maioria sabe, se tiver mais de 10 na roda se pode cre que pelo menos 7 vai saber a musica se ela e uma daquelas tipo " do outro lado da cidade" nunca falha.
Eu vo faze uma lista de umas 1o musicas dessa pra mim aprender pra parar de ficar constrangido quando me pedirem pra tocar em roda...e fodaaaaaaaaaaa!!! valeu