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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Inocentes demais




Agora, fazendo oposição a uma postagem intitulada de Indecentes, cuja primeira linha sugeria para retirar as crianças da sala, nada mais justo do que fazer uma postagem para incluir os inocentes. E não, não falaremos da Turma do Balão Mágico, nem nada assim. Mas acho que de qualquer forma é possível chamar as crianças (ou não!) para o papo. Enfim, o assunto ainda é o mesmo – namorico - mas desta vez tratado de uma forma bastante infantil até. Tanto e tão inocente que gera um efeito de ironia.
Trata-se de Vo(C) da extinta banda porto-alegrense Vídeo Hits, que era encabeçada pelo multimídia e pluritalentoso Diego Medina. Ironia pura. Não que uma letra de canção não possa ter sua ingenuidade genuinamente. Mas eu não consigo ver dessa forma. A maldade está na cabeça de quem quer ver. E não quero dizer com isso que seja ironia no sentido de que se está dizendo umas palavras doces, inocentes até, para dizer obscenidades, no fundo. Nada disso.
A questão para a qual quero chamar atenção é justamente do exagero dessa ingenuidade, que produz sentidos e dialoga com um conjunto de letras românticas e melosas – Vo(C) é uma baita de uma sátira ao exagero pop. É uma sátira, inclusive, de coisas que nem tinham surgido ainda quando a música foi feita. Pode uma sátira antecipar o objeto satirizado? Se já dissemos todos os outros absurdos, como por exemplo, que a resposta vem antes da pergunta, então me auto autorizo a dizer que a sátira pode antecipar o objeto da sátira. E o excesso das bandas pop está afunilando para coisas que não são nada novas: musiquinhas alegres e visual colorido me faz lembrar do Balão Mágico e do Trem da Alegria. Ah, mas essas manifestações musicais do pop (emo, coloridos, happycore, etc) têm o peso das guitarras que esses conjuntos musicais infantis não tinham... Quem disse? Vocês não sabem se na minha infância eu não ouvia Balão Mágico plugado no cubo com o overdrive (efeito de distorção) lá em cima. Juro. Jairzinho e Simoni para mim eram como Andreas Kisser e James Hetfield. Tá, é brincadeira. Eu nem mesmo conheço uma parte daquilo que estou falando (qual?), nem faço questão de conhecer. Minha FM, e muito menos minha vitrola, não toca qualquer coisa. E viva a música boa em geral, que dispensa rótulos, na verdade.
Mas agora falando sério, mais ou menos, é disso do que estou tratando. A ironia da canção da Vídeo Hits é uma grande tirada de sarro com um excesso pop de vertente romântica. Tanto que, enquanto as bandas pop (e incluam as boas bandas aí) já estavam se repetindo nos clichês de “quero você”, e aí por diante, houve algumas manifestações partindo de criativos artistas que conseguiram olhar para uma tradição já cansada de se repetir, e fazer outra coisa, mesmo aparentemente fazendo o mesmo. Nesse sentido, pelo menos eu acho, Por Você, do Barão Vermelho, não é uma repetição (já é uma outra coisa, é uma enumeração de exageros - "por você, desejaria todo dia a mesma mulher"); enquanto Como Eu Quero, do Kid Abelha, mesmo sendo uma belíssima canção, não está questionando a regra, mas aplicando-a. E é justamente isso que se faz em Vo(C), da Vídeo Hits: fazer outra coisa que não seja necessariamente "aplicar a regra". Na canção, marca-se exageradamente uma inocência produzindo-se um sentido. Isto é, não é uma canção que quer exatamente ser levada a sério como letra de música romântica pop. Mas satirizar, assim, as outras.
Vo(C)
Deixa eu mostrar aquela nuvem lá no céu
Um pedacinho de hortelã
Vai refrescar todas as horas da manhã
E quando eu sentir sua boca a me beijar
Seu beijo vai me acalentar
Vou suplicar pra que me beije de mansinho
Com o rosto coladinho
Respirando baixinho
Será que é pedir demais pra mim
Uma garota assim?
Vou lhe esperar comportadinho no quintal
Roendo as unhas devagar, agoniado
Atrás das roupas no varal
Você então com os olhos a me procurar
Deixe esse céu azul queimar
Qualquer restinho de espera e solidão
Segure minha mão
É assim que vai ser
Sempre estar com você
Foi feitinha pra mim
Uma garota assim

Até a próxima!

Luis Felipe

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, lembro quando eles lançaram essa música (lá por 2000, eu acho...) a gente conversar sobre isso, sobre esse exagero na falta de sacanagem. E concordo contigo quanto à ironia existir antes do objeto ironizado (depois quero um pouco desse bagulho que tu anda usando), pois se a gente pensa nessa onda toda de Fresno, Restart e todo esse lixo, a Videohits tem uma diferença crucial: o Medina é um baita compositor. Na minha opinião, essa é uma canção pop perfeita.
Mas, me dei conta, chega de repetir tudo que tu já disse aí em cima. Excelente post, irmão!

Luis Felipe R. Freitas disse...

Obrigado, Cris, leitor fiel e co-responsável pelo blog.
Tu viu como as postagens se parecem mesmo com algumas conversas nossas? Ou pelo menos os assuntos... Manda uns textos teus, meu amigo!!! Tá muito monológico esse blog (por enquanto, espero), hehehe.
Abração