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sábado, 13 de novembro de 2010

Indecentes



Tirem as crianças da sala. Falaremos de sexo!

Mas não sexo sexo. Sexo na letra de música, algo sugestivo, indireto. Indecente, desde que poético. Nada preciso ser dito (tão) diretamente. Ninguém foi mais indecente, talvez, que Serge Gainsbourg, o compositor francês narigudo e orelhudo, mas “pegador”. Pegou Brigitte Bardot, inclusive. E além desse item no currículo que, por si só, já é impressionante, também influenciou um pá de manos da pá virada, justamente por falar de intimidades. Se pudéssemos, aqui, estabelecer na “língua oficial” o adjetivo gainsbourguiano (no filme Gainsbourg, Vie Héroïque, lançado este ano, usa-se o adjetivo), eu diria que algumas canções são gainsbourguianas. Entre elas, e talvez principalmente, a Cama e Mesa, de Roberto Carlos: “quero ser (...) o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro, a tolha que desliza pelo corpo inteiro”. E enquanto Serge Gainsbourg fazia músicas polêmicas e sensuais na França, entre os 1970 e 1980, Barry White fazia algo similar nos EUA. Barry White, nesse sentido, também era gainsbourguiano: “tonight when we make love / I'm gonna work your body with my tongue” (algo como “hoje a noite, quando fizermos amor, eu vou lamber você todinha”!!! mas dito não tão diretamente, admito, o tradutor é que foi meio mal intencionado), são versos de Staying Power.

O maior sucesso da carreira de Serge Gainsbourg foi Je T'Aime Moi Non Plus, que é uma gemeção só. Parece que ele teria feito a canção ainda quando se encontrava com a loirinha sexy-babarella Brigitte Bardot, um dueto, mas que ela não teria podido gravar por motivos pessoais. A canção ficou engavetada um tempo e a inglesinha Jane Birkin encarou a bronca, em todos os sentidos: viveu um romance público, ao mesmo tempo que semi-nua, com o compositor e cineasta Gainsbourg. Ah, sim, e gravou com ele a música que foi um escândalo, mesmo no país que lançara juntamente com a Itália, uns anos antes da música, um filme, também escandaloso, O Último Tango Em Paris, em que estrelou Marlon Brando no papel de canibal. Bem ou mal dizendo, era a França botando as manguinhas (e outras coisas) de fora.

Mas uma coisa interessante, para poder falar de referência, é que um verso de Je T'Aime Moi Non Plus pode ter inspirado a composição Entre Seus Rins, da banda paulistana IRA. Além de todos os “je t'aime” da canção francesa, que obviamente viram os “te amo” ou mesmo “gosto de você” em português, a canção francesa tem um verso ali que é essa metáfora biológica, ou algo assim: “entre tes reins”. Essa expressão não precisa necessariamente ser traduzida como “entre teus rins”. Importa é que se entenda de que região do corpo se está falando: região interna na área dos quadris. Como se acessa a região interna é bem simples, e eu não preciso explicar porque o leitor e a leitora sabem. Aliás, na canção francesa, também diz a mulher, alternando com o homem do dueto: “tu vas, tu vas et tu viens / entre mes reins”. Alguns tradutores, inclusive, com toda a propriedade (eu não sou tradutor de francês) vão suavizar a metáfora biológica intra-anatômica dizendo “quadris” no lugar de “rins”, tornando menos explícita a ideia de intercurso carnal. Essa opção na maneira de dizer até nos faz lembrar de Pro Dia Nascer Feliz, do Barão Vermelho, que tem um verso que é “no vai e vem dos seus quadris”, que a gente podia achar escandalosa, indecente, antes de entender o que se diz na música de Gainsbourg.

Mas o Edgard Sacandurra, guitarrista que compôs a música para o IRA tocar, quis mesmo ir na carne. Na Entre Seus Rins existe só o ponto de vista do homem, que está fazendo uma declaração de amor e passando uma cantada direta, ainda que indireta. Ele começa com “te amo / isso eu posso te dizer / como eu gosto de você”. Porque tem coisas que talvez ele não possa ou não deveria dizer ainda. Mas a cantada prossegue e a coisa vai esquentando: “seu beijo / minhas mãos em seu quadril / madrugada tão febril / ah, como eu gosto de você”. E há um clímax quando, depois de uma longa e bonitinha declaração de amor, não se aguenta e diz o que não podia dizer no início: “me deu um dedo, eu quis o braço e muito mais / agora estou a fim / de ficar entre seus rins”. Sensacional!


Entre Seus Rins

Te amo, isso eu posso te dizer
Como eu gosto de você
Como eu gosto de você

Te quero, isso é tudo que eu sei
Que eu gosto de você
Ah! Como eu gosto de você

O que eu sinto não é difícil explicar
É o amor como uma fonte a jorrar... pura emoção

E o meu sonho nem consigo me lembrar
Mas o certo é que você estava lá
Sonho real, sonho real

Seu beijo, minhas mãos em seu quadril
Madrugada tão febril
Ah! Como eu gosto de você

Meu exílio é em seu corpo inteiro
És meu país estrangeiro
Ah! Como eu gosto de você

Me deu o dedo eu quis o braço e muito mais
Agora estou a fim de ficar entre os seus rins

De ficar entre os seus rins
De ficar entre os seus rins
De ficar entre os seus rins
Seus rins

Link para Je T'Aime Moi Non Plus, letra e canção:

http://letras.terra.com.br/serge-gainsbourg/61635/



Até a próxima!

Luis Felipe

Um comentário:

BrunOrtiz disse...

Luiz, esse post veio ao encontro de uma música que ouvi ontem, da Orquestra imperial, chamada "Ereção". Já ouviu?
Cara, é um ótimo hit para o tema.
Gostei desse blog! Vou passar aqui mais vezes.