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domingo, 1 de maio de 2011

A noite se repete

A genialidade de Nelson Sargento. Esse samba melancólico, aparentemente simples, é de uma complexidade melódica e riqueza harmônica enormes. Observem que as rimas são esquemáticas - AABB, CCDD, e a relação sintático-semântica no interior dos versos quase acompanha a rima final. Dos dois primeiros versos – explicativos -, passando pelas definições/ generalizações que se pretendem óbvias nos quatro versos do meio, até os últimos versos – condicionais -, o poeta mostra que a única conclusão, numa relação argumentativa de causa e consequência inegociáveis é aquela: “se eu não te amasse, não sofreria ingratidão”.

Ainda, para um breve comentário sobre a harmonia, um compositor mediano provavelmente teria simplesmente repetido o esquema harmônico na segunda estrofe. Mas não o Sargento. Ele repete, na segunda estrofe, somente a harmonia dos segundo, terceiro e quarto versos da primeira estrofe, deixando para o final um lá sétima com a nona “deslizando” para repousar na quinta da tônica (ré maior), uma espécie grand finale com cromatismo descendente. O esquema harmônico, o que acompanha cada frase melódica (e que coincide com o verso), fica assim: AABC ABCD. A cifra está aí abaixo.



A Noite Se Repete (Nelson Sargento)


D7+ E7 Em A7
A noite se repete porque se repete o dia

D7+ E7 Em A7
Tristeza só existe porque existe alegria

Am7 D7/9- G7+ Gm6
A terra é quem dá a vida para a flor

Bm6 E7 G6/B A5+
Num coração sincero é que desponta um grande amor



D7+ E7 Em A7
Por existir a vida é que a morte impera

Am7 D7/9- G7+ Gm6
Por haver gente falsa é que há gente sincera

Bm6 E7 G6/B A7
Se não houvesse mar, não haveria embarcação

Em7 E7 A7/9(-) D7+
Se eu não te amasse, não sofreria ingratidão



Até a próxima!

Luis Felipe